III Reunião de Análise Climáticas para o Nordeste do Brasil
Mossoró-RN, 16 e 17 de fevereiro de 2006
Análise das chuvas ocorridas durante os meses de janeiro e primeira quinzena de fevereiro de 2006.

Numa avaliação da distribuição espacial das chuvas no mês de janeiro e primeira quinzena de fevereiro de 2006, destacam-se precipitações abaixo da média em praticamente todos os Estados do Nordeste, com redução de 70% em algumas regiões, como pode ser visto na Figura 1. Esse quadro foi decorrente de até 45 dias sem chuvas em algumas regiões devido ao posicionamento desfavorável de um sistema transiente chamado Vórtice Ciclônico de Ar superior, que inibiu a formação de nuvens de chuva no seu centro. Entretanto, observam-se algumas localidades com desvios em torno dos valores médios, resultantes de efeitos locais, a exemplo da topografia e dos efeitos de brisa.

Figura 1 – Precipitação observada nos meses de janeiro e fevereiro, comparada com a climatologia.
PROGNÓSTICO PARA O PERÍODO DAS CHUVAS (MARÇO A MAIO DE 2006) PARA O NORTE DO NORDESTE BRASILEIRO
Metodologia
Este prognóstico baseou-se nas análises das condições oceânicas e atmosféricas relativas a janeiro de 2006 e dos resultados gerados por modelos numéricos e estatísticos de escalas global e regional de previsão climática.

Condições Oceânicas

As condições oceânicas atuais e os resultados dos modelos de previsão da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) apontam, no oceano Pacífico Equatorial, para a permanência de anomalias negativas de TSM, indicando uma La Niña de intensidade fraca. Nessas condições, a precipitação sobre o semi-árido Nordestino, durante o seu período chuvoso, é fortemente determinada pelas condições do Oceano Atlântico Tropical.

Sobre o Atlântico Tropical Norte, anomalias positivas de TSM persistiram durante janeiro de 2006, enquanto que no Atlântico Tropical Sul foram verificadas condições de TSM abaixo da média. Essa configuração é desfavorável à ocorrência de chuvas no norte do Nordeste Brasileiro. Há, porém, uma incerteza significativa no que tange às previsões da evolução dos campos de TSM do Atlântico, sendo necessário o monitoramento contínuo das condições meteorológicas e oceânicas, especialmente sobre essa Bacia, uma vez que sua variabilidade temporal é alta.

Resultados dos Modelos de Previsão Climática.

De forma unânime, os modelos analisados (modelo global, modelo acoplado, modelo regional ETA e modelo estatístico SIMOC, do CPTEC, multi-modelo do IRI e modelos regionais RSM e RAMS, da FUNCEME), mostraram, mesmo para diferentes cenários de TSM (persistida e prevista), uma tendência de chuvas abaixo da normal para o Nordeste, no período de Março a Maio.

Conclusão

Conforme a metodologia apresentada, a previsão é de uma maior probabilidade para chuvas abaixo da normal climatológica, durante o período de março a maio de 2006. A distribuição de probabilidades, por região, é ilustrada na Figura 2.
Figura 2 – Distribuição de probabilidades para três categorias, para o Nordeste Brasileiro,
durante o período de Março a Maio.
Nesta previsão, destacamos duas áreas: Uma composta pelas regiões semi-áridas dos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, extremo norte da Bahia e Ceará (Sertão e Cariri), onde as probabilidades são: 20% -das chuvas serem acima do normal, 35%- em torno da Normal e 45% abaixo da normal climatológica. A outra Região engloba o extremo norte do Ceará, Piauí, grande parte do Maranhão e da Bahia, as probabilidades são as seguintes: 25%- Acima do Normal, 35%- Normal e 40%- Abaixo do Normal.

Ressalta-se que a variabilidade espacial e temporal das chuvas é alta. Isso significa que algumas localidades deverão receber uma quantidade de chuva maior do que outras, não se descartando a possibilidade de ocorrência de eventos extremos de chuva localizada.

No período de março a maio de 2006 poderão ocorrer veranicos (interrupção das chuvas por um período de aproximadamente 10 dias), eventos característicos de nossa quadra chuvosa, não sendo possível prever, neste momento, quando e onde os mesmos ocorrerão. Devido à alta variabilidade espacial e temporal, característica intrínseca da chuva no norte do Nordeste, recomenda-se o acompanhamento das previsões diárias de tempo e análises de tendências climáticas.

A utilização prática deste prognóstico no processo de tomada de decisão, nos recursos hídricos, na agricultura, turismo e demais setores da sociedade, sejam eles da esfera privada ou governamental, é de inteira responsabilidade dos usuários.

Mossoró 17 de fevereiro de 2006
Instituições Participantes
EMPARN - Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte
FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
CPTEC/INPE - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos /Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
INPE-NATAL- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
LAMEPE-ITEP - Laboratório de Meteorologia de Pernambuco - Instituto de Tecnologia de Pernambuco
UFERSA-Universidade Federal Rural do Semi-Árido
UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte
AESA- Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba
UFCG – Universidade Federal de Campina Grande
CLBI-RN – Centro de Lançamento da Barreira do Inferno
SRH-SE – Superintendência de Recursos Hídricos do Estado de Sergipe
SRH-BA – Superintendência de Recursos Hídricos do Estado da Bahia
SEMARH-AL – Secretaria Executiva de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Alagoas
UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte


A quarta reunião de análise climática será realizada em Recife-PE em Março/2006, quando será elaborada a previsão climática para o setor leste do Nordeste.