II Reunião de Análise e Previsão Climática 2005 para o Semi-Árido Nordestino
Previsão Climática para o Nordeste do Brasil
Tendência Climática para o Período de Março a Maio de 2005

Sumário
Nos dias 17 e 18 de fevereiro de 2005, realizou-se em Natal-RN a II Reunião de Análise e Previsão Climática de 2005 para o Norte da Região Nordeste do Brasil. Participaram do evento técnicos das instituições: FUNCEME, CPTEC/INPE - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, ESAM – Escola Superior de Agricultura de Mossoró, CLBI – Centro de Lançamento da Barreira do Inferno e centros estaduais de meteorologia da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe.

Ao final do evento concluiu-se que, a tendência climática para o período de fevereiro a maio de 2005 é de chuvas variando em torno da normal climatológica (média histórica) a abaixo desta, no semi-árido nordestino incluindo: centro-leste do Maranhão, Piauí e Ceará, centro oeste dos Estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba, noroeste de Sergipe e Alagoas e extremo norte do Estado do Bahia.

Ressalta-se que embora as condições globais condicionantes do clima do Nordeste tenham permanecido desfavoráveis durante janeiro de 2005, observou-se uma tendência de melhoria dos campos de temperatura dos oceanos, particularmente sobre o Atlântico Tropical Sul. Desta forma, recomenda-se o monitoramento contínuo das condições oceânicas e atmosféricas globais.

Assim, como é comum ocorrer em anos com precipitação em torno da média ou abaixo desta, é esperado que ocorra grande variabilidade temporal e espacial das chuvas sobre o Semi-Árido nordestino durante o período de março a maio.
Análises
As chuvas observadas no mês de janeiro de 2005 nos estados da Região Nordeste do Brasil foram abaixo da média histórica do ponto de vista quantitativo e irregularmente distribuída, tanto temporal quanto espacial. Os principais fenômenos meteorológios que favoreceram as chuvas no período foram os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior-VCAS, Frentes Frias-FF, Complexos Convectivos de Mesoescala e efeitos de brisa.

No estado do Ceará a redução foi de aproximadamente 30% e a concentração mais significativa, com anomalias positivas, foi na região do Cariri, Sertão dos Inhamuns, Sertão de Crateús e Ibiapaba. Em grande parte do Rio Grande do Norte os desvios percentuais apresentaram anomalias negativas em torno de –50%, execetuando-se alguns núcleos de desvios positivos localizados nas regiões do Seridó Oriental, Trairi, Serra de Santana e Chapada do Apodi. No estado da Paraíba as chuvas ficaram acima da média histórica, ocorrendo precipitações principalmente no Sertão e Cariri. No estado de Pernambuco, as chuvas ficaram, em média, com valores abaixo de 50% da média, com exceção de alguns municípios isolados do Sertão, na Microrregião de Araripina, que apresentaram chuvas acima da climatologia. No estado de Alagoas as chuvas concentraram-se mais no oeste, compreendendo o sertão e o baixo São Francisco. Nas demais áreas a anomalia foi negativa. Em média, a redução das chuvas no estado de Alagoas foi na ordem de 50%. Em Sergipe as chuvas distribuíram-se do Litoral ao Sertão, com maior incidência no sul do Agreste, com valores acima da média.
Campos Oceânicos e Atmosféricos Relativos a janeiro de 2005
O campo de Temperatura da Superfície do Mar-TSM sobre o Pacífico Equatorial continuou apresentando anomalias positivas (águas mais aquecidas do que o normal) ao longo da bacia, abrangendo todas as regiões do El Niño. Foram observadas anomalias de até 1,5 oC, principalmente na porção centro-oeste da bacia, indicando um fenômeno El Niño de fraca intensidade. No Atlântico Tropical Norte, a TSM esteve acima do normal, apresentando anomalias positivas da ordem de 1,5 oC. Na porção sul da bacia, as TSM’s apresentaram-se próximas da normal.

No campo de Pressão ao Nível do Mar-PNM, observou-se o uma anomalia negativa no Centro de Alta Pressão do Atlântico Norte, enfraquecendo os Ventos Alísios de Nordeste sobre o Atlântico Intertropical. Os Ventos Alísios de Sudeste estiveram com magnitudes próximo a normal climatológica.

Este cenário: (Atlântico Norte mais aquecido que o Atlântico Sul e Ventos Alísios de Nordeste mais fracos que a média) implicou no posicionamento da Zona de Convergência Intertropical-ZCIT ao norte de sua posição climatológica.
Resultados de Modelagem Numérica.

Os resultados gerados pelos modelos dinâmicos (globais e regionais) de previsão de clima (chuva), mostram uma tendência para chuvas (período de marco a maio) variando entre as categorias normal e abaixo da normal, em 2005, no setor norte da região Nordeste do Brasil. Os modelos de previsão da temperatura da superfície do mar indicam que o fenômeno El Niño deverá permanecer atuando com fraca intensidade até maio de 2005.
Considerações Finais

As condições oceânicas e atmosféricas e os resultados dos modelos de previsão de TSM indicam que haverá a continuidade do fenômeno El Niño, no período de marco a maio de 2005, porem com fraca intensidade, enquanto o Atlântico Intertropical apresenta ainda um dipolo positivo, ou seja, condição desfavorável para ocorrência de chuvas mais abundantes para o período de marco a maio como um todo.Embora o Atlântico Sul tenha aquecido consideravelmente ele ainda não aqueceu o suficiente para que o índice fique negativo, condição favorável a chuvas regulares. Em função do quadro apresentado, o monitoramento contínuo das condições oceânicas e atmosféricas nos próximos meses é recomendável.

Como a previsão é de chuvas de normal a abaixo da normal, poderão ocorrer veranicos acentuados, não se descartando, porém, a possibilidade de ocorrência de eventos extremos de chuva localizada. Ressalta-se, novamente, a alta variabilidade espacial e temporal das chuvas, característica intrínseca das mesmas nessa região, indicando-se, portanto, o monitoramento contínuo das condições intrasazonais, oceânicas e atmosféricas sobre as bacias dos oceanos Pacífico Equatorial e Atlântico Intertropical nos próximos meses.
Figura - A figura mostra que há 35% de probabilidade do total de chuvas de marco a maio de 2005 ocorrer numa faixa em torno da média climatológica (categoria normal), 25% acima dessa faixa (categoria chuvosa ou superior) e 40% abaixo dessa faixa (categoria inferior).

Este prognóstico baseou-se nas análises das condições oceânicas e atmosféricas relativas a janeiro de 2005 e dos resultados gerados pelos modelos numéricos globais e regionais de previsão climática.